Música como previsibilidade de rotina e suporte transicional

Os efeitos da musicoterapia na rotina de crianças autistas foram observados em estudo por meio da introdução de músicas individuais compostas por um musicoterapeuta. Essas canções foram criadas para auxiliar duas crianças com autismo durante a rotina de entrada na sala de aula, uma transição que costuma ser desafiadora. As letras das músicas correspondiam a cada etapa da rotina, como entrar na sala, cumprimentar professores e colegas, dizer tchau ao cuidador e iniciar uma atividade. A ideia era usar a música como um suporte previsível e estruturado, facilitando a compreensão e a execução independente dessas ações.
Os resultados mostraram que o uso das canções promoveu maior independência nas crianças durante a rotina matinal. No caso de uma das crianças, o número de etapas realizadas sem ajuda aumentou significativamente quando a música era utilizada. Já a outra criança precisou de uma adaptação na música – a retirada da parte de “despedida” – para que os efeitos positivos aparecessem. Isso mostra que a musicoterapia pode ser flexível e adaptada às necessidades específicas de cada criança, reforçando a importância da individualização no tratamento.
Além de melhorar a autonomia, a música também exerceu um efeito positivo no comportamento dos colegas. No estudo, observou-se que mais crianças cumprimentavam espontaneamente o colega com autismo quando a canção era introduzida. Isso sugere que a musicoterapia não só ajuda a criança com autismo, mas também pode influenciar o ambiente social ao seu redor, promovendo interações mais naturais e inclusivas.
Os professores, que foram capacitados pela musicoterapeuta, conseguiram implementar as canções de maneira eficaz, mesmo sem ter formação musical prévia. Eles relataram que a rotina tornou-se mais tranquila e organizada, reduzindo o estresse tanto para as crianças quanto para os adultos. Esse ponto é importante porque mostra que estratégias de musicoterapia podem ser incorporadas por educadores no dia a dia, ampliando o alcance do tratamento.
Vale destacar que as músicas foram compostas considerando a personalidade de cada criança e a estrutura da rotina, o que aumentou sua eficácia. A música foi usada como ferramenta de suporte visual e auditivo, ajudando a criança a antecipar o que viria a seguir – um elemento muito valioso para crianças com autismo, que frequentemente se beneficiam de previsibilidade e estrutura.
Os familiares e educadores envolvidos no estudo relataram satisfação com os resultados. Eles notaram não apenas a melhora no comportamento das crianças durante a entrada na escola, mas também um impacto positivo no clima da sala. A música pareceu tornar o momento mais alegre e menos ansioso, facilitando a transição entre casa e escola.
O estudo reforça que a musicoterapia, quando aplicada de forma colaborativa e individualizada, pode ser uma ferramenta poderosa para apoiar a inclusão de crianças com autismo em ambientes educacionais. Ela ajuda a construir rotinas mais independentes, promove interações sociais e pode ser adaptada conforme a resposta de cada criança, sempre com o acompanhamento de profissionais especializados.
Fonte: DOI 10.1007/s10803-006-0272-1