Como a musicoterapia atua em habilidades de autocuidado?
Isabel Dionísio • 5 de setembro de 2025

Canções individualizas auxiliam crianças a seguir rotinas de vida diária

O estudo de Kern, Wakeford e Aldridge (2007) investigou como o uso de canções incorporadas em rotinas diárias pode apoiar crianças autistas a desenvolverem maior independência em tarefas de autocuidado. O participante foi um menino de 3 anos, diagnosticado com autismo, que apresentava interesse em música, mas dificuldades em comunicação, interação social e atividades de vida diária. Ele também demonstrava comportamentos repetitivos, como balançar as mãos, especialmente quando frustrado ou diante de tarefas desafiadoras.


Durante as rotinas de sala, observou-se que quando a professora usava apenas instruções verbais, o menino frequentemente apresentava comportamentos de fuga ou estereotipias. Porém, quando as instruções vinham cantadas, esses comportamentos diminuíam, e ele conseguia engajar melhor nas etapas das tarefas. Isso sugere que a música funcionava como um estímulo estruturador e regulador, ajudando a reduzir respostas repetitivas e a facilitar o foco.


Na rotina de lavar as mãos, o uso de uma canção adaptada aumentou o número de passos que ele realizava sozinho. Sem a música, surgiam comportamentos como rigidez corporal e agitação; com a música, houve maior participação e menos necessidade de intervenção direta. Isso mostra que o canto atuou não só como um guia de memória, mas também como uma estratégia para diminuir a resistência e os comportamentos repetitivos durante a atividade.


No caso do uso do banheiro, ainda que o progresso tenha sido mais lento, a música ajudou a estabelecer uma rotina clara. Embora não tenha eliminado totalmente os comportamentos repetitivos, criou uma base de previsibilidade que reduziu parte da frustração. A familiaridade musical parecia suavizar a transição entre etapas da tarefa, reduzindo a probabilidade de surgirem estereotipias como pular ou reclamar.


Na rotina de guardar brinquedos, o efeito foi ainda mais visível. Ao som de uma canção já conhecida pelas crianças da turma, o menino participou de forma consistente e com menos manifestações de resistência. O fato de outros colegas também seguirem o mesmo estímulo musical criou um contexto social estruturado, diminuindo comportamentos repetitivos e incentivando imitação positiva.


O estudo reforça que os comportamentos restritivos, como movimentos estereotipados ou fuga da tarefa, podem ser reduzidos quando a música é usada como suporte. Isso ocorre porque ela oferece previsibilidade, torna a atividade mais atrativa e ajuda a criança a organizar seus próprios movimentos e ações. A canção, portanto, atua como um recurso regulador que diminui a necessidade de recorrer a estereotipias para lidar com a situação.


Em resumo, a pesquisa mostrou que a musicoterapia, ao inserir canções em tarefas cotidianas, contribuiu para reduzir comportamentos repetitivos e aumentar a independência em atividades de autocuidado de uma criança autista. O efeito foi mais forte em tarefas já conhecidas, como lavar as mãos e guardar brinquedos, e menos evidente em atividades novas e complexas, como o treino do banheiro. Ainda assim, a música se mostrou um recurso eficaz para tornar o aprendizado mais acessível e menos frustrante.


Fonte: DOI 10.1093/mtp/25.1.43

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