Musicoterapia e comportamentos repetitivos
Isabel Dionísio • 5 de setembro de 2025

Como a terapia com ritmo pode ajudar crianças autistas a reduzir comportamentos repetitivos

O estudo de Srinivasan et al. (2015) investigou como intervenções rítmicas influenciam os comportamentos repetitivos em crianças autistas. Foram comparados três grupos: um de musicoterapia baseada em ritmo, um com robótica e um grupo de comparação com atividades de mesa. O foco foi observar mudanças em comportamentos repetitivos — como movimentos estereotipados, comportamentos sensoriais e comportamentos interferentes — ao longo de 8 semanas de intervenção estruturada.


Logo no início, crianças dos grupos de ritmo e robótica apresentaram mais comportamentos interferentes, como birras, possivelmente por se tratar de atividades novas e desafiadoras. Já o grupo de comparação, envolvido em atividades de mesa, mostrou mais comportamentos sensoriais, como manipulação repetitiva de objetos. Isso sugere que o contexto da atividade influencia fortemente o tipo de repetição que aparece.


Com o passar das sessões, o grupo de ritmo demonstrou redução significativa nos comportamentos interferentes. Isso significa que, embora inicialmente mais desafiadoras, as atividades rítmicas ajudaram as crianças a se engajar de forma mais positiva, reduzindo gradualmente respostas como resistência, choros ou agressividade. Essa mudança não foi observada de forma consistente nos outros dois grupos.


Outro aspecto importante foi o efeito nos comportamentos sensoriais. Nas sessões finais, as crianças do grupo de ritmo apresentaram menos ações repetitivas com objetos do que as do grupo de comparação. Isso reforça que o uso do corpo e da música em atividades dinâmicas pode reduzir a dependência de estímulos repetitivos com objetos, criando espaço para interações mais variadas.


Quanto aos comportamentos estereotipados, como balançar o corpo ou agitar as mãos, não houve diferenças significativas entre os grupos. Isso mostra que nem todos os tipos de repetição respondem da mesma forma às intervenções, e que efeitos positivos podem se concentrar mais em alguns domínios específicos.


Além da redução dos comportamentos interferentes, o grupo de ritmo também apresentou aumento da motivação, isto é, maior engajamento nas tarefas e disposição em participar. Esse resultado indica que a música não só ajudou a diminuir comportamentos desafiadores, mas também favoreceu estados emocionais mais produtivos para a aprendizagem e interação.


Em síntese, a pesquisa concluiu que intervenções rítmicas são promissoras para reduzir comportamentos repetitivos interferentes em crianças autistas, especialmente quando aplicadas de forma estruturada e contínua. Embora inicialmente as atividades musicais possam gerar resistência, com o tempo elas se tornam uma oportunidade de engajamento, promovendo mais interesse, menos comportamentos desafiadores e menor dependência de repetições sensoriais com objetos.


Fonte:  doi:10.1016/j.rasd.2016.01.004

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