Efeitos da baixa ou alta intensidade de musicoterapia no afeto social
Isabel Dionísio • 5 de setembro de 2025

Como a intensidade da musicoterapia pode afetar o desenvolvimento do afeto social

A musicoterapia tem sido estudada como uma intervenção que pode ajudar crianças autistas a desenvolverem aspectos importantes do afeto social, ou seja, as formas de se relacionar, comunicar e compartilhar experiências com outras pessoas. Em um estudo, foram comparadas sessões de baixa intensidade (uma vez por semana) e de alta intensidade (três vezes por semana), ao longo de cinco meses, para entender se a frequência influenciava na qualidade dos relacionamentos e nas mudanças observadas.


As avaliações foram feitas com ferramentas reconhecidas internacionalmente, como o ADOS (Autism Diagnostic Observation Schedule), especialmente no domínio de Social Affect (afeto social), e a Escala de Responsividade Social (SRS). Esses instrumentos permitiram observar mudanças nos comportamentos sociais, comunicação e interação das crianças, em diferentes momentos: no início, ao final do tratamento e também após 12 meses.


Um ponto central do estudo foi a análise da qualidade do relacionamento terapêutico entre a criança e o musicoterapeuta, medida pelo AQR (Assessment of the Quality of Relationship). Esse instrumento avalia até que ponto a criança consegue engajar-se em interações comunicativas e afetivas não-verbais, e também se o terapeuta está ajustando suas respostas ao modo de comunicação da criança. A sintonia (ou match) entre ambos foi considerada essencial para o desenvolvimento das habilidades sociais.


Os resultados mostraram que uma maior sintonia na relação esteve associada a reduções significativas na gravidade dos sintomas que impactavam o afeto social. Crianças que apresentaram mais momentos de sintonia com o terapeuta tiveram ganhos maiores em comunicação e interação social ao longo de 12 meses. Isso reforça que a qualidade da relação construída na musicoterapia pode ser um fator determinante para o progresso.


Em relação à diferença entre baixa e alta intensidade, o estudo não encontrou variações significativas na taxa de sintonia entre criança e terapeuta. Em outras palavras, tanto na musicoterapia uma vez por semana quanto três vezes por semana, a qualidade da relação foi semelhante. Isso indica que a intensidade, por si só, não foi o fator decisivo para mudanças no afeto social, mas sim a presença de uma boa sintonia terapêutica.


Outro achado importante foi que as melhorias observadas no afeto social se mantiveram ao longo do tempo, especialmente quando avaliadas de forma mais objetiva pelo ADOS. Já os relatos feitos pelos pais através da escala SRS mostraram efeitos mais fortes no curto prazo (após cinco meses), mas que diminuíram após um ano. Isso sugere que diferentes formas de avaliação podem captar mudanças distintas: algumas mais imediatas e outras mais estáveis.


Em resumo, este estudo destaca que, mais do que a frequência semanal das sessões, o que realmente faz diferença para o afeto social das crianças autistas em musicoterapia é a qualidade da relação estabelecida com o terapeuta. Através da música, cria-se um espaço de sintonia emocional e comunicativa que possibilita avanços na capacidade de se relacionar, comunicar e compartilhar experiências de forma mais rica e significativa.


Fonte: DOI 10.1007/s10803-017-3306-y

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