Musicoterapia para desenvolver linguagem funcional em crianças autistas
Isabel Dionísio • 12 de setembro de 2025

Como a intervenção musical pode ajudar a desenvolver linguagem funcional em crianças com pouca ou sem fala oralizada com apoio parental

A musicoterapia tem se mostrado uma ferramenta promissora para apoiar o desenvolvimento da linguagem funcional em crianças autistas com pouca ou nenhuma fala. De acordo com um estudo recente publicado no periódico Autism, intervenções que utilizam música podem melhorar não apenas a atenção à fala, mas também a interação social e a comunicação entre pais e filhos. Isso é especialmente importante para crianças em idade pré-escolar que ainda não desenvolveram linguagem funcional, um desafio que afeta cerca de 30% das crianças no espectro.


A pesquisa foi um ensaio de viabilidade, ou seja, um primeiro passo para verificar se seria possível aplicar o programa musical de forma estruturada e avaliar seus efeitos iniciais. Nesse estudo, os pesquisadores compararam dois tipos de intervenção: um programa baseado em música – chamado de MAP (Music-Assisted Programme) – e uma intervenção de comunicação social tradicional (SCIP-I). Ambas foram realizadas online, com sessões guiadas por terapeutas e com participação ativa dos pais. Os resultados iniciais indicaram que o grupo que utilizou música apresentou melhorias em responsividade social, compreensão de palavras e frases, e no número de palavras produzidas, além de interações mais qualitativas entre criança e cuidador.


Mas por que a música funciona? Estudos de neuroimagem indicam que a música ativa regiões do cérebro relacionadas à linguagem e à atenção de maneira mais eficaz do que a fala isolada. Em crianças autistas, observa-se uma conectividade fortalecida entre as regiões frontal e temporal quando expostas a canções, o que facilita o processamento e a produção de palavras. Além disso, muitas crianças no espectro demonstram habilidades musicais aprimoradas, como discriminação de tons e memória melódica, o que torna a música uma via natural de engajamento.


O programa MAP foi desenhado para ser estruturado, mas naturalístico, usando cantigas simples com palavras-alvo inseridas em contextos lúdicos e repetitivos. Os pais eram orientados a cantar, dançar e usar instrumentos caseiros, como chocalhos, para engajar a criança. A repetição das palavras dentro de contextos musicais favoreceu a assimilação e a generalização do vocabulário.


Outro ponto fundamental foi o uso da tecnologia como apoio: um aplicativo desenvolvido especialmente para o estudo permitia que os pais praticassem as músicas e registrassem as sessões em casa. Esse recurso foi essencial para dar consistência à intervenção e manter o envolvimento da família ao longo das semanas.

Vale destacar que a participação dos pais foi um elemento-chave para o sucesso do programa. Eles não apenas aprenderam estratégias para estimular a comunicação, mas também relataram uma conexão mais forte com seus filhos, percebendo avanços tanto na qualidade quanto na frequência das interações. A musicoterapia, dentro desse modelo, mostrou-se uma intervenção segura, aceitável e com alta adesão familiar.


Em resumo, este ensaio de viabilidade aponta que a musicoterapia pode ser uma abordagem inovadora e promissora para apoiar a aquisição de linguagem funcional em crianças autistas. Ao combinar estímulos sonoros, engajamento parental e suporte tecnológico, ela abre novas possibilidades de comunicação e conexão. Estudos maiores e mais robustos ainda são necessários para confirmar esses achados, mas os resultados já indicam um caminho harmonioso e eficaz no desenvolvimento infantil.


Fonte: doi 10.1177/13623613241233804

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