A musicoterapia usada em creches para favorecer brincadeiras compartilhadas

O estudo de Kern e Aldridge (2006) avaliou como intervenções de musicoterapia incorporadas ao brincar ao ar livre podem apoiar o desenvolvimento de crianças autistas em creches inclusivas. O objetivo foi favorecer interações entre pares e promover formas mais significativas de brincar em um ambiente natural como o playground.
A pesquisa envolveu quatro meninos com autismo, de 3 a 5 anos, que apresentavam dificuldades típicas no brincar: interações sociais limitadas, comportamentos repetitivos e pouca participação em atividades coletivas. Para enfrentar isso, os pesquisadores criaram um “Music Hut”, um centro musical ao ar livre com instrumentos fixos, e compuseram canções personalizadas para cada criança, alinhadas a seus objetivos terapêuticos.
Nos primeiros momentos, apenas a presença do espaço musical atraiu as crianças, que exploraram os sons e instrumentos. Esse interesse, porém, não foi suficiente para gerar mudanças consistentes nas interações sociais. Ou seja, só o ambiente musical, sem mediação, não aumentou significativamente a qualidade do brincar com os colegas.
O maior impacto veio quando professoras e colegas foram treinados para usar os princípios da musicoterapia durante o brincar. Com as canções individualizadas, que incluíam temas como turnos, escolha de instrumentos e contato corporal apropriado, as interações positivas cresceram de forma marcante. Nesse momento, o brincar deixou de ser isolado e passou a ser compartilhado, estruturado e mais envolvente.
Outro ponto importante foi o uso de estratégias mediadas por pares. Quando colegas de classe eram orientados a assumir o papel de “parceiros de brincadeira”, eles aprenderam as músicas, modelaram comportamentos e ajudaram os meninos autistas a se engajar. Assim, o brincar tornou-se não só mais frequente, mas também mais significativo e socialmente integrado.
Os dados mostraram que, após a intervenção mediada, as crianças autistas passaram a permanecer mais tempo em atividades de brincar e a usar os materiais de forma mais criativa e apropriada. Houve aumento tanto nas interações positivas quanto no engajamento com brinquedos e instrumentos, transformando o playground em um espaço de aprendizagem e inclusão.
Em resumo, este estudo demonstrou que a musicoterapia integrada ao brincar ao ar livre pode apoiar crianças autistas no desenvolvimento de habilidades de brincar. Isso ocorre não apenas pela atração da música em si, mas pelo uso intencional de canções, mediação de adultos e participação ativa dos pares, que juntos criaram oportunidades reais de convivência, aprendizado e diversão compartilhada.
Fonte: doi 10.1093/jmt/43.4.270